sábado, 26 de setembro de 2009

Dois anos sem papai ...


Quarta feira passada dia 23 de setembro fez dois anos que o papai foi para a montanha encantada como diz Rubem Alves, a Ciça faz um encontro na casa dela para compartilharmos nossas lembranças , nossa saudade e nossa tristeza que é reconfortada com o abraço dos amigos.
Fiquei encantada , a Ciça escreveu um poema de uma forma tão especial que ela pintou o papai com as letras .... veja a seguir :
Salvador, você conheceu?
Meu pai era orgulhoso e altivo, mas de uma humanidade que nunca mais vi em ninguém.
Meu pai era um pouco melancólico, mas, às vezes, em certos momentos tinha uma alegria infantil.
Meu pai era urbano, mas amava a natureza e a pesca.
Meu pai era severo, mas tinha um amor absoluto ao próximo.
Meu pai era realizado profissionalmente, trabalhava por amor e era o melhor no que fazia.
Meu pai era de uma inteligência nobre, mas tinha o coração humilde.
Meu pai era um homem um tanto seco, mas tinha um amor absoluto pela família.
Meu pai não tinha hábito de me abraçar, mas as vezes me deitava um olhar de amor que dispensava qualquer declaração.
Meu pai era protetor, mas me deixou seguir o meu caminho.
Meu pai era protetor, mas me deixou seguir o meu caminho.
Meu pai sempre foi reservado para falar de seus sentimentos, mas um dia tentou transpor essa barreira de "fortaleza".
Meu pai me incentivou a escrever. A pensar. A contestar. A ter coragem. A assumir meus erros. a ser eu mesma. a ser nobre. A ser honesta. A ter caráter. A ser independente. A brigar quando necessário, a levantar a cabeça depois da queda. A ser um pouco melancólica, a falar palavrão, a gostar de flores, de cachorro, de galinhas, a amar o Cruzeiro.
Do meu pai herdei um gênio forte, uma personalidade um pouco rebelde, uma dor nas costa terrível , uma indignação com muitas coisas, o desprezo por outras, uma certa inflexibilidade, a tendência a sonhar, a sensibilidade, o orgulho, o amor pelas palavras escritas. a transparência no contentamento e no descontentamento, o gosto por ouvir Altemar Dutra e Moacir Franco, a necessidade de ficar sozinha às vezes, a paixão por comida com caldo, o pânico de lugares fechados, o medo da solidão, e milhões de outras tantas coisas que não me vêem à cabeça nesse momento.
Penso nele todos os dias. Tem dias que choro. Noutros apenas lembro. De coisas ruins, de coisas boas, de algumas conversas, de coisas do cotidiano. Da camisa polo listrada que ele mais gostava, dele sentado nosofá da sala assistindo televisão, do seu delicioso cheiro de macacão com graxa, do som da sua voz, da sua mão (a mão de homem mais forte que eu já vi), dos seus olhos grandes e cor de mel, onde ele não conseguia esconder nada.
É uma saudade. Um vazio não tê-lo mais. Saudades até das brigas, das diferenças, dos desacertos. É, brigávamos muito porque sempre fomos parecidos. Amor e ódio. Mas o amor sempre superava e prevalecia.
Meu pai era um homem contraditório, cominúmeras qualidades e defeitos, inúmeros acertos e falhas, mas era todo ele só amor.
Meu pai era um homem singular, e quando me olho no espelho vejo nitidamente uma parte dele refletida em mim. É assim que ele deve ser lembrado!
Cecília Resende Alves (minha irmã)