domingo, 21 de fevereiro de 2010

SER JUSTO


Sem justiça não há equilibrio interior. Porém sei que às vezes é difícil deixar o que é velho para trás e se abrir para o novo, mas sei também que se recusar a abandonar a velha maneira de pensar e de ser impede que aconteçam verdadeiras mudanças em nossa vida. É como aquele funcionário que não muda nunca a sua mesma rotina diária há anos e, é claro, nunca nada vai mudar na vida dele. Mas, o fato é que não há nenhum crescimento possível enquanto se persistir nos velhos padrões. Eles são bengalas que podem até ter sido úteis quando éramos mais cegos , mas agora aprendemos a andar sem elas. Mas, por que ser justo é tão importante assim? Porque é simplesmente impossível alcançar o benefício da libertação verdadeira que é a compaixão sempre. Por isso, permita-se meditar sobre o que se segue, reveja como tem sido a justiça dentro de você e da sua vida e principalmente tire todo o proveito disso em seu próprio benefício.
Antes de tudo, tenha certeza que é você quem faz o seu mundo como ele é, porque ele é exatamente como você o vê , como na história do meio copo d'água. Os seus pensamentos é que moldam e dão forma final à sua ralidade e não são as outras pessoas que o fazem. Não há como escapar disso, não importa as desculpas que se apresente e nem os julgamentos que se pretenda fazer dos outros. Por uma questão de defesa e principalmente de insegurança absoluta sobre a própria maneira de ser e agir na vida , as pessoas são literalmente viciadas em julgar continuamente a tudo e a todos que estão à sua volta, a cada minuto. É um comparar e julgar. Desde que se acorda, começa o julgamento, julga-se o dia, a hora, as pessoas conhecidas ou estranhas, dentro de casa, na rua, no shopping, no trabalho, na escola, no curso,nas festas, na igreja, a roupa, a cor, o cabelo, o andar, enfim, milhares de julgamentos por dia, sem parar! E, como julgam unicamente aquilo que lhes parecem errado, segundo sua visão particular , observe como cada julamento é acompanhado de um ou mais sentimentos ruins, pesados e negativos: raiva, inveja, critica azeda. Ao final do dia coletam uma imensa sacola de sentimentos desagradáveis e negativos. E esse é o único "prêmio" que recebem pelos seu julgamentos. Parece incrível, mas as pessoas não percebem que seus julgamentos não têm absolutamente nenhuma importância para ninguém. O que você julga e os sentimentos que você coleciona ficam somente dentro de você mesmo. O "réu" não está nem aí para sua sentença! Se observar verá que onde você mais se contraria e desgasta energia diariamente é nos seus contínuos julgamentos . Contínuos e inúteis! Com certeza você não deixaria seu carro parado e ligado direto o dia todo na garagem, porque consideraria um desperdício inconcebível de energia e dinheiro. No entanto, as pessoas, desperdiçam a maior parte da sua energia e vida, deixando seus julgamentos ligados constantemente e acham que isso é normal e certo!
E por que agimos assim, contra nós mesmos? Além da insegurança há aquele aspecto de: "tenho que julgar mal os outros para me sentir menos pior". Julgando e buscando defeitos e falhas nos outros me sinto consolado e asim vou enganando a mim mesmo com pensamento que eu sou melhor, ou pelo menos, não sou tão pior. Aliás, a própria necessidade de se sentir melhor ou superior aos outros já mostra a baixa auto - estima da pessoa, a necessidade de se auto - afirmar. E, pensando bem, qual é a finalidade de ser o melhor? É uma só: Se eu for aceito pelos outros, quem sabe assim eu consigo me aceitar? Esse é mais um desgaste tolo de dependência do julgamento dos outros e que nunca trará a resposta que se procura. A única coisa realmente importante na vida é ser feliz e estar bem consigo mesmo. E não será nunca julgando os outros para diminuí-los ou preocupando-me como sou julgado que vou conseguir esse estado. Pelo contrário, essa atitude nunca permite que eu alcance aquele estado de ser. E veja, ser justo não é para ser bonzinho e ser aceito e sim para estar bem consigo mesmo. "não julguéis, para que não sejais julgados" . Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados". O grande ensinamento aqui não é a forma simplista que é passada, ou seja, se não julgar você também não será julgado. Isso não é real! Você pode não julgar ninguém, mas mesmo assim continuar a ser julgado, é claro. A lição é: se você não julgar os outros deixará de julgar a si mesmo e ser tão severo consigo próprio. E, se não julgar mais a si mesmo,também não sentirá compulsão de julgar os demais. a pessoa julga muito aos outros , porque se julga continuamente. Quando voc~e se auto - encontrar realmente e se aceitar, com qualidades e defeitos, verá que se deixará de preocupar com os outros ! Quando conseguir isso sentirá um alívio que não pode sequer imaginar! Tira- se um peso imenso de cima dos ombros. A energia e a própria vida fica leve, fácil e agradável. Como é bom e libertador ser isento de julgamentos !!
Mas como conseguir isso? Exige trabalho porque são velhos vícios muito, mas muito arraigados. Comece por assimilar emocionalmente, não racionalmente, algumas verdades sobre o julgar. Antes de tudo compreenda que seu modo de ser pode até ser o melhor para você, mas não necessariamente o é para o outro! Aliás sendo muito franco consigo mesmo, talvez admita que não é o ideal nem mesmo pra voc~e, então porque exigir dos outros? A minha verdade é relativa até para mim mesmo! Mas há outro aspecto que o julgador precisa compreender. Os seus julgamentos são um espelho que refletem ele mesmo e não o outro! Quando julga está mostrando quem é ele, como pensa, qual sua visão e nunca definindo realmente quem é o outro. Logo ele está se vendo e não ao outro!
Além de compreender bem tudo isso para se atingir o estado de ser realmente justo é preciso de se possuir um verdadeiro sentimento de humildade. Não se fazer de pobre ou inferior, mas saber aceitar com tranquilidade e sem medo que ninguém, nem ele mesmo tem a verdade final de nada. O julgador é um carente de humildade e um cultivador de sobera. Ser justo exige ser humildae. Ser justo implica na capacidade de absorver emocionalmente que cada um tem o direito de pensar, agir e ser diferente de si, mesmo que seja de uma forma que eu não faço, não sei ou até não gosto. Mas apesar disso, continua a ter o direito de ser . Aprender a conviver bem com as diferenças, preservando a paz interior é um dos grandes sinais de verdadeiro crescimento e sabedoria . Quando se dá a liberdade de ser de cada um , está-se conquistando a própria liberdade! É óbvio que estamos falando de ser, desde que respeitando a liberdade dos demais, mesmo porque não existe liberdade individual quando se fere a liberdade dos outros.
Se ainda está difícil para você experenciar a indispensável compaixão comece se observando em todos os momentos . Cada vez que seu juíz interior tentar proferir uma sentença, mesmo no silêncio do seu cérebro, questione a opinião dele! Por que julgar as pessoas e as coisas sempre pelo que elas têm de pior, segundo o seu conceito? Por que julgar tem que ser somente sobre coisas ruins ? Isso é ser justo? Por que não julgar pelo o que cada um tem de melhor? Não importa o que a outra faça ou diga, certamente ela também tem muitas, mas muitas coisas boas. Veja essas esqueça aquelas! Comece a treinar isso no seu dia-a-dia e descobrirá surpreso como você mudará a visão de si mesmo. Vai começar a entrar em contato com todas as centenas de coisas boas e positivas que você tem e nunca deu atenção. Vai descobrir que seu juiz interno sempre foi muito injusto com você e com acusações sem procedência exageradas. Ou, pelo contrário, que ele usa das desculpas de julgar os outros para não se enxergar. Comece a praticar isso dentro de casa, não julgue os outros e encontrará absolvição por si mesmo!!
Texto do meu querido amigo e médico neurologista William Rezende Araújo