sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Despedida do TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.

Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüencia de lingüistas grandiloqüentes!...


O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse que se sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.


Até  o cedilha foi a favor da minha expulsão,  aquele C cagão que fica se passando por  S  e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W. "KKK"  pra cá, "WWW" pra lá.


Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de TWITTER, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega  de arguição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüencias! Chega de piadinhas dizendo que eu estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom  enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...


Nós  nos veremos nos livros antigos. Saio da Língua para entrar na história.


Adeus,


Trema.


Recebi esse texto via  e-mail ,  encaminhado pelo meu amigo Vinicius. Bacana , né ????

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quase Nada

Dizem que quando não conseguimos nos  expressar, recorremos aos astros, poetas, livros, cartomantes ... eu me encontrei neste momento no "Zeca Baleiro e Alice Ruiz" segue ai minha definição nesse instante  :



De você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
No meu caminho
será um atalho
ou um desvio
um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo
Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nos dois não sei mais nada
De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
no meu caminho
Será um atalho
ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
que há no mundo
Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pais e filhos

O  texto que escreverei  abaixo é para meus amigos com filhos , para os que vão ter e para  os que querem compreenderem as relações familiares .

Sem falar que   quem o escreveu é meu querido Carpinejar


Ele? Eu!

Haverá um período em que o filho vai cansar do que representamos. É tão cansativo concordar sempre, tão chato alguém que tem sempre razão. Ele irá combater a nossa figura com a ironia que dispõe, porque acredita que temos culpa naquilo que ele está sofrendo.

A relação filial depende do término da idealização. Não somos os melhores pais do bairro, somos os pais que podemos ser.

É o que chamo de fim de feitiço do bebê, daquela relação harmoniosa de que o pai e o filho são a mesma coisa.

O desencanto virá, é uma previsão inadiável, surgirá com o nosso desemprego ou quando nos separamos ou quando cometemos uma deselegância em público. Não demora a decepção chega, esteja pronto, ninguém é perfeito a ponto de esconder os próprios defeitos durante a vida inteira.

O filho não expressará sua frustração somente a partir de insultos, manhas na mesa e choro ao dormir - sintomas óbvios. Faz também de formas mais secretas e que muitos nem identificam.
Uma delas é, de repente, gabaritar as provas da escola e passar de aluno C para A . Pensaremos que ele finalmente encontrou a vocação, que agora decolou para Havard. Cuidado, grandes alunos estão escondendo grandes problemas. São os mais inteligentes, disfarçam os pontos de críticas para conquistar a indiferença. Como não tem desempenho ruim na escola, parece que está maravilhoso. Os conceitos tornam-se álibis para cultivar tiques e fobias em paz.

Já ouvi casais diante do orgulhoso boletim do filho: "Não preciso mais me preocupar com ele! ". Sim precisa se preocupar, agora mais do que nunca. O acerto não é isolado. Veja se ele não anda  antissocial, se não está falando baixo, se procura contar seu dia?

O que é bom não é de todo positivo, o que é ruim não é de todo negativo.

Assim como é provável que o filho, nalgum momento, largará de nos chamar de pai  e adotará o nosso nome como referência. Cheira a desamor, tampouco é; trata-se de um distanciamento necessário para criar sua identidade. Vicente, meu filhote, inventou de me caracterizar como "Ele". No começo, me magoou. Depois larguei de corrigi-lo. Pai é uma palavra difícil. Em vez de defender o meu posicionamento, é hora de ajudá-lo. Esclarecer que não sou seu centro do mundo, que ele está certo em procurar seus gostos e empatias fora de mim.

Já fui menino, é um horror amadurecer, vem os pelos, a voz muda, nos sentimos feios, não controlamos a sexualidade sequer entendemos os hormonios, existe o receio de que os outros também notem nossa transformação. É uma solidão que somente a timidez suporta.

Para o filho não ser um monstro não podemos fingir que somos heróis.

                                            Fabrício Carpinejar