quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dia dos irmãos...

 Sem  palavras para  a data, recorro a Carpinejar ...


Pedido de  desculpas  aos  meus irmãos

Eu convivia com meus primos até o Natal de 80.

O pai brigou com seus irmãos e deixamos de visitar a casa dos avós e de participar das festas da virada com toda a família.

Foi um desaparecimento sem explicação. Sempre brincava com meus oito primos, paramos de nos ver de repente por imposição e diferenças dos adultos.

Nem desconfio qual o motivo do desentendimento entre os tios e as tias. Sei que sobrou para as crianças, que cresceram separadas e longe do casario amarelo da Corte Real.

Herdamos o desterro. Não tenho nem ideia de como meus cúmplices de sangue e peraltice se encontram e como enfrentaram a maturidade.

Quanta diversão desperdiçada! Quanta algazarra sufocada no pulmão! Quantas vidraças intactas porque não jogamos mais bola na rua!

Perdi meus melhores momentos de férias, que eram roubar pingente do lustre da sala, deslizar de meias, espiar revistas com mulheres seminuas, beber cerveja escondido.

Sumimos da vista e da vizinhança, apartados do contato.

Não quero repetir a tragédia. Mas estou fazendo igual ao meu pai.

Briguei com dois irmãos, Carla e Rodrigo.

Meus filhos Vicente e Mariana raramente falam com seus primos João Pedro, Giovanna e Francisco.

Não proíbo nada, mas não ajudo, o que dá no mesmo. Penalizo as crianças de frequentar os corredores do sobrenome.

O boicote é carregado de desculpas menores, finjo que estou certo, invento razões e me adio em mentiras.

Como estamos de mal, não visito os manos, sequer dividimos espaços em comum. É uma Guerra Fria, na qual o silêncio se bandeou para arrogância.

O tempo vem passando, e já faz dois anos sem aparecer nos aniversários, sem telefonar, sem atualizar o rosto, comemorar os sucessos, amparar as tristezas.

Moramos em Porto Alegre com um fosso interminável de ressentimento entre nossas casas.

Sou um penetra na vida deles, e eles são desconhecidos em minha vida.

Não visitei ainda Francisco, bebê recém-nascido do Rodrigo. Carla me atende, mas seu marido me odeia.

Que falta dos mais velhos nos obrigando as pazes. Hoje é complicado qualquer passo em direção ao riso.

Não pretendo ter mais razão. Prefiro transformar o orgulho em amor.

Peço desculpas aos dois publicamente. Tenho saudade de nossos churrascos, dos abraços gritados, dos conselhos sussurrados, de me emocionar à toa. E de trapacear no jogo de ludo.

Peço desculpas. Eu errei.

Nossa mãe, Maria Elisa, não suporta a gente distante.

– Não desejo morrer com vocês brigados. Não eduquei minha gurizada ao ressentimento.

Por favor, meu presente de Natal é comemorar com vocês. Prometo que empresto minha bicicleta amarela.





Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 11/12/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 17280

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Detesto me acostumar ...


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

Pra você...

Ruben Alves disse: Comunhão é quando  a beleza  do outro e a beleza da gente se juntam em um único contraponto."


Desde  que você surgiu pra mim, sinto assim; uma sintonia de  cumplicidade, uma  leveza na alma, um ouvir mágico   coisas que jamais  imaginei  um dia  escutar ou dar  atenção.

Estou  em   constante crescimento . Consigo  ouvir  até seu silêncio e acredite me traz paz e acolhe  alma.

Que  a natureza permita  que  eu saiba decifrar  os sinais e  as mensagens que você emana ,  que  meus ouvidos estejam sempre abertos  para seu cantar, que eu saiba "trabalhar" você  de forma  que nunca te espante  e sempre retorne. Que DEUS me ajude a ter a sensibilidade de merecer você!!!

Carmem Resende / 7  de julho de 2013            

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mercado Central de BH

A comunicação no Mercado, é o que tem de melhor. Quando  vi este  cartaz não resisti, fui logo pedindo  ao dono da loja para tirar uma foto. É ou não é  a junção perfeita da linguagem  coloquial, com a não verbal? O recado foi dado!!!







Quando  me perguntam um  local  que  eu indicaria pra  conhecer BH, eu respondo sem  pensar: Mercado Central. Se você gostar do Mercado,  se sentirá bem  em qualquer lugar daqui.

O mercado é democrático, é transparente, agradável, simples, colorido, alegre e leve... 











terça-feira, 14 de maio de 2013

Pensei na Virgínia






Querida  amiga Virgínia, você sabe  que constantemente   estou pensando em você  e  sempre procurando estar presente na sua  vida  de  alguma forma ...

Hoje você apareceu  pra mim de forma inesperada. Estou lendo esse livro  da sutil e avassaladora CLARICE... Eis que  pula em meus olhos o conto:

Sem palavras para descrever a analogia que fiz contigo, vou apenas registrar um trecho marcante que imediatamente me trouxe a sua imagem ...

Por não estarem distraídos


"...Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram  ter o  que já tinham. Tudo porque  quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que já eram.Foram então aprender que, não se estando distraídos, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone  finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Essa leitura surgiu num momento  de distração...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

MÊS DE MAIO ...Mais Amor,Inspiração e oração...

Maio chegou...  boas  novas... bons  ventos... alma leve... Meu  niver... Obrigada...

Azul do céu brilhou

O mês de maio enfim chegou

Olhos vão se abrir pra tanta cor

É mês de maio

A vida tem seu esplendor


Raio de sol entrou

Pela janela, me convidou

Pra tarde tão bela e sem calor

É mês de maio

Saio e vou ver o sol se por



Horizontes de aquarela

Que ninguém jamais pintou

E o enxame de estrelas

Diz que o dia terminou



Noite nem se formou

E a lua cheia já clareou

Sombras podem ir, façam o favor

É mês de maio

É tempo de ser sonhador...











segunda-feira, 22 de abril de 2013

Oração, pra mim é um poema...

Segundo Santo Afonso, a oração se define como uma conversa familiar com DEUS. Pela Oração, o orante entra no mistério de DEUS, torna-se íntimo, amigo de DEUS. Não para obrigar DEUS a fazer sua vontade, o que seria muito mesquinho. Mas para fazer a vontade de DEUS, na qual ele encontra sua felicidade. Amar a DEUS por DEUS mesmo, sem outro interesse, é a proposta dos santos. A matemática afonsiana da oração é simples: Oração mais vontade de DEUS é igual  felicidade.



segunda-feira, 11 de março de 2013

Julgar é Complicado

Achei  belíssima  a  forma  que o Tico se expressou,  colocarei na íntegra  a reportagem, pois  "na morte só  espero  o silêncio  dos que não puderem me compreender" faço minhas  suas observações:


O vocalista da banda Detonautas Roque Clube, Tico Santa Cruz, ‘soltou os cachorros’ para cima de quem anda falando mal do cantor Chorão, encontrado morto na última quarta-feira (6).

Leia na íntegra – do mesmo jeito que escrito – o desabafo dele, que chegou a apontar o dedo na cara da imprensa brasileira por ter difundido imagens do apartamento do ídolo. O depoimento foi publicado na noite desta sexta-feira (8) em seu perfil do Facebook, recebendo mais de 46 mil curtidas:

"Quero dizer uma coisa aqui a respeito dessa hipocrisia ridícula que está circulando entre comentários de redes sociais e por uma pequena parte da imprensa sensacionalista.

Primeiro que acho uma falta de respeito não só com o artista, mas com a família, com o filho, com os fãs do Chorão, esta exposição desnecessária de fotos do apartamento e de seu corpo! Isso que se faz para vender notícias e gerar acessos em sites, me desculpem, não é informação útil, é morbidez e falta de compaixão.


Segundo, é que gostaria de saber que moral que tem uma sociedade tabagista, alcoólatra, que consome remédios ( DROGAS ) de todos os tipos - para dormir, para emagrecer, anabolizantes, estimulantes vendidos em farmácias e mais um monte de porcarias legalizadas - para falar do que o cara fez ou deixou fazer. Isso não é problema de ninguém!

O nosso problema deveria ser relativo a dar assistência a quem é dependente químico, tratar com respeito estas pessoas que por ventura se encontram doentes ou em dificuldades, ajudá-las a se recuperar, oferecer informação e conhecimento aos jovens para que eles possam entender as consequências do uso de qualquer tipo de substância química, legal ou não. Prevenir ao invés de ficar fazendo julgamentos tolos.

Terceiro é que estão repetindo um monte de baboseiras com relação a questão do "Sexo, drogas e Rock n' roll" - mas quando eu ligo rádio e a TV escuto o tempo inteiro um monte de artistas de outros gêneros estimulando bebedeira, sacanagem, vulgaridade e putaria para todo tipo de público incluindo crianças. Ou as letras desses Sertanejos e outros estilos estão tratando de assuntos sérios e eu sou surdo e nunca ouvi?

As drogas estão inseridas na sociedade desde que o homem é homem e devemos tratar esta questão com responsabilidade e não com mais preconceito e estupidez.

Por conta dessa postura é que acabamos criando uma nuvem de ignorância e falta de conhecimento que prejudica mais do que salva.

Chorão era adulto, maior de idade, pagava suas contas e fez suas escolhas na vida. Erradas ou certas, devemos procurar entender a situação antes de sair julgando e usando um problema sério para fazer piadinhas e sensacionalismos.

De modo que o mínimo que se espera de um SER HUMANO que tem amor por outro ser humano é que exista sensibilidade e se mantenha o respeito e a solidariedade para com seus entes queridos, amigos e fãs.

 
Hipocrisia FUDIDA ficar jogando pedra em quem não pode se defender como se a vida de todos que estão desferindo golpes fosse um santuário de bons exemplos.

Reflitam!


Depois da morte, nada  mais  faz sentido...
 
 
 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres da minha vida ...

Cheguei  agora  a pouco em casa , pensei: "recebi tanto parabéns pelo dia  de  hoje,  tantos abraços... e quem  irei abraçar  mesmo que distante"

Segue  a lista:


Minha mãe, sem ela não  estaria  aqui, escrevendo  para alguém (você) ler...  Mulher corajosa... tem um(a) filha  e arrisca a ter outra (segunda)que no caso  sou eu ... tão  questionadora... tão'briguenta'... tão intensa...   Mas me deu de presente a Ciça, tão TUDO... tão irmã, tão maezona... tão  amiga , quando meu coração tá partido...  a pessoa  que  me fez ter um  sentimento que  não   se explica " ser tia"   como é bom  ver no filho dela  um pouco de mim... A Cláudia,  mesmo  que distante está presente e   me  faz  falta  e me deu  uma fofura  que me chama  de 'tia Carminha' ...

A minha 'Vó Santa' pessoa  que mais briguei,  pois justificava tudo que  queria   impor ou se perdoar  pela religião e mesmo assim  continuou gostando de mim e  me acolhendo  pelo  olhar que refletia  que me amava ... ou  no mínimo  me aceitava...

 A Tia Olga,  a tia mais brava da  família(a cara da Ciça)  mas  se vc der um beijo na testa, ou um sorriso e pedir a bença faz até uma marmita e manda a  comidinha  carinhosa  de sempre...

Tia Nezita ... que saudades...

A Míriam, uma mulher que  cumpre o que promete... quando estudávamos pedagogia, ela  dizia:'se  um dia  eu tiver uma filha, irá  se chamar Catharina e será sua  afilhada'...

A Catharina,  minha linda afilhada  que em  alguns momentos  me vejo  nela ...

Mulheres que  aqui citei,  obrigada  por tudo...

Tem um pouco de vocês  em   mim...



 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Desejo...

Oh, Espírito Santo! Amor do pai e do filho,
Inspira-me  sempre  o devo  pensar...
O que devo sentir e como devo sentir...
O que devo  calar...
E o que devo falar...
O que devo escrever...
Como devo agir...
O que devo fazer...
O que  devo dizer, e como devo dizer...
Abençõe minha fala, meu olhar e  meu ouvido...

Para  que  eu  possa obter a vossa glória, o bem do mundo e minha propria santificação. Amém...
 

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Heresia






Em  setembro, um amigo  me apresentou esse livro  e nos poucos minutos que tive para observá-lo achei interessante. Sem falar  que tenho uma queda  pela literatura inglesa  e seus autores. Nesse mês tive a oportunidade  de  comentar o meu interesse pelo livro e coragem  para pedi-lo emprestado. Totalmente diferente  de mim o desprendido amigo me  emprestou na maior boa vontade. Confesso que fiquei sem graça pois  acho difícil liberar  meus livros e  mais difícil ler o livro dos outros pois tenho que me comportar e lembrar-me a toda hora  que o livro não é meu, requer  todo um ritual ler livro dos outros: nada de caneta, lápis, marca texto perto e total  atenção  com a Cindy minha cachorrinha companheira  de leitura. Cuidado também  com o marca página e  com minhas lágrimas, se chorar  devo-me lembrar  que o livro  não é meu, que pena!

 Maravilhosa história, porém tristíssima. Fiquei meio deprê  e confesso  que estou no meu momento  em que as coisas inclusive a literatura  deve ser conclusiva,  tem  que  ter um fim, uma decisão, talvez por isso esteja  sofrendo tanto, pois  quero explicação pra tudo, quero um motivo para cada  acontecimento vivido, quero saber  porque aconteceu tal fato, o que  estou fazendo  aqui e porquê fui parar lá?... estou no 'momento perguntas'.


Bem, filosofia a parte ... ficaram  as questões sem resposta e afirmações sem provas  que a  minha leitura provocou:Quando irão acabar  as brigas religiosas?  Qual é o conceito  de família? na guerra e no amor, vale tudo? Quem vai nos acolher  nas nossas angústias?Alguém tem  que ceder! mas quem??? Onde está DEUS?? DEUS está  em mim! Quem poderá nos salvar? E  a minha  eterna e terna pergunta:"devo pensar pra dois?" O que Jane(Austen) Faria????

O livro trata das relações humanas,crenças religiosas,  conflitos familiares, confianças amorosas e o que  a gente não faz  e é capaz por amor? Será  que acreditar tanto numa religião não é a forma mais  egoísta  de privatizar DEUS?














 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Triste









Sofro porque  a juventude me encanta...

Sofro porque frequento  boate...

Sofro porque meu sobrinho, também diverte em  boate...

Sofro porque sou professora e meus alunos tem sede de alegria...

Sofro porque sair de casa  e não voltar  é  assustador...

Sem palavras  para descrever, recorro  a Carpinejar:

 
A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS

Fabrício Carpinejar

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
...
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Exposição...

 
 
 
Caetano  Veloso já dizia: "cada um, sabe a dor e a delícia de ser o que é". Vou  parafraseá-lo : "cada um sabe a dor e a delícia de expor o que quer..."

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Livros...livros

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, bom estar registrando aqui o que estou  sentindo: Ou seja, de (bem) com a vida  e  em PAZ. Ganhei quatro livros  de presente  e prometi a mim mesma  que iria ler por ordem  de presente e logo após ler essa crônica, vim correndo pra cá  para  dividí-la  com vocês. Ganhei o livro "As Melhores Crônicas de Rubem Alves" da Lucinha e do Marquinho, um doce casal  que adoro trocar ideias, livros e jogar  conversa fora rsssssssssss.Pra quem nunca leu Rubem Alves, sugiro que comece  com esse. Digitarei a crônica que mais gostei e que me tocou (eu não  a conhecia) e caiu muito bem  com o momento que eu estou passando. Vou digitá-la na íntriga, se tiver algum erro, levem em conta a emoção.




É conversando que  a gente se desentende

 
 

É de madrugada, naquele intervalo confuso entre o sono e o estar acordado, que os deuses me fazem suas revelações. Acontece, então, que as coisas mais banais aparecem à minha frente pelo avesso, o que muito me surpreende porque, pelo avesso, as coisas são o oposto do que parecem ser pelo direito./ Hoje, por exemplo, os deuses revearam-me que a separação vem da compreensão. Para se ficar junto é melhor não entender. Isso é o oposto do que pensam os casais que vivem brigando. Acham que suas brigas devem-se ao fato de não se entenderem e pedem então socorro aos terapeutas, quem sabe a terapia fará com se entendam melhor, o que é fato, mas a conclusão não segue a premissa. Não é certo que, depois de se entenderem melhor, vão ficar juntos./ Frequentemente é no exato momento da compreensão que a separação torna-se inevitável. Nada garante  que o compreendido seja gostado. Prova disso é o que aconteceu com meu sogro, que odiava miolo. Convidado para jantar, deliciou-se, repetiu  e fartou-se com uma maravilhosa couve-flor empanada. Ao final do banquete, cumprimentou a anfitriã pelo prato divino. Mas ela logo explicou:"Não é couve-flor, é miolo empanado...". E ele entendeu, entendimento que o catapultou na direção do banheiro mais próximo, onde o jantar foi vomitado. É assim. Às vezes, quando  a gente não entende, come  e gosta. Quando entende.desgosta e vomita./ Afirmação assim avessa, tão contrária ao senso comum, exige uma explicação_ e é o que passo a fazer, por meio de uma longa curva que, na geometria não-euclidiana da alma, é o caminho mais curto entre dois pontos./Abri, no meu micro, um arquivo com o nome de "Encíclicas". Coloco ali o texto das encíclicas que vou promulgar quando for eleito Papa. Como se sabe, o Papa Leão XIII, em 1891, promulgou a encíclica De Rerum Novarum, que quer dizer "Sobre as coisas novas". De repente, a igreja, que até então acreditava que tudo o que merece  ser conhecido estava guardado no seu baú milenar de doutrinas, percebeu,com um susto, que coisas novas, interessantíssimas, aconteciam no mundo./ E o bom Papa apressou-se a passar essa informação adiante. Esse foi o início de um enorme esforço de modernização da Igreja que não deu certo, pois não se coloca remendo de pano novo em pano velho. O pano velho começou a rasgar... Desejoso de reparar o mal que a encíclica De Rerum Novarum causou, escrevi a sua antítese,   a encíclica De Rerum Vetustarum, ou seja, "Sobre as coisas velhas"./ E a sua substância é extraordinariamente simples.Reza a encíclica que, do momento de sua publicação para frente, tudo, absolutamente tudo o que ocorrer na igreja, as fórmulas litúrgicas, as bençãos sacerdotais, batizados, crismas, casamentos, funerais, hinos, leituras dos textos sagrados, encíclicas, e mesmo as falas do padre ao confessionário, tudo deverá ser feito em latim.Ah! Como é belo o latim! Soa como uma "Liturgia de Cristal", música pura./ A música  é a poesia no seu ponto máximo, quando as palavras perdem  completamente qualquer sentido e transformam-se em beleza pura, beleza que não busca significações. Beleza inefável, sem palavras: sobre ela não pode haver querelas. Assim, se tudo na igreja acontecesse em latim, seria como se tudo só fosse música _ não haveria possibilidade de desentendimentos./ Se os padres e os bispos falassem em latim,  a gente não entenderia nada e amaria tudo. Pois a música é assim: a gente ama sem entender. Sabia disso muito bem o oráculo de Delfos, sábio e esperto, que jamais falava qualquer coisa que os outros entendessem. A linguagem clara e distinta mata a fantasia. Falava ele os seus enigmas, música pura, língua estranha.Não é por acaso que os pentecostais e os carismáticos crescem  como crescem: pelo poder da língua estranha que ninguém entende. Dentro do que ninguém entende cabe tudo: miolo vira couve-flor e o corpo e a cabeça aprovam./ Eu gostaria mesmo era de frequentar um mosteiro onde fosse proibido falar prosa _  onde só se lesse poesia e se contassem causos e estórias _ e se ouvisse música, canto gregoriano, Bach, o saxofone de Jan Gargarek, o piano de Keith Jarrett, a Carmina Burana, Jean-Pierre Rampal tocando melodias japonesas, o Maurice André e o seu pistão... Ou uma congregação Quaker, onde se cultiva o silêncio, ninguém fala, todo mundo ouve, a voz de Deus só se ouve quando todo mundo fica quieto./ A compreensão sempre dá briga. Imagino, mesmo, que foi por isso que Deus confundiu as línguas da humanidade na construção da Torre de Babel. As pessoas falavam a mesma língua. Falando, entendiam-se. Entendendo-se,compreendiam as opiniões uns dos outros. Compreendendo as opiniões uns dos outros, não gostavam delas. E daí passavam às vias de fato. Deus Todo-Poderoso compreendeu, então, que  a única forma de evitar pancadaria era fazer  com que eles  não se entendessem. E foi então que nasceu a música, a língua que ninguém entende e todo mundo ama./ É conversando que a gente se desentende. Em um momento, continuarei a minha curva, lugar onde se louvam os casamentos eternos, para chegar à casa, lugar onde se sabem que os casamentos são efêmeros. Por enquanto, fica o conselho aos casais que estão brigando. Cuidado com a conversa. Da conversa pode nascer a compreensão, da compreensão pode surgir a separação. A compreensão  pode ser tão fatal para o casamento quanto ela foi para o jantar do meu sogro. É conversando que a gente  se desentende./ Previnam-se contra a terapia de casal. Ela pode produzir compreensões insuportáveis. A compreensão pode produzir a loucura. Há loucuras que resultam da lucidez... Adotem a sabedoria milenar da Igreja: adotem o latim como língua da casa. E dediquem-se à música, dando preferência aos instrumentos de sopro, pois enquanto se sopra não se fala e, assim, a compreensão e a separação são evitadas.

 

 
 
 
 

 

2013 chegou agora aqui...

Abençoado  seja 2013! Venha com muitas oportunidades, belos sorrisos, boas gargalhadas e a esperança  de que o melhor  irá acontecer...