terça-feira, 1 de setembro de 2009

O afogado...


Era uma vila de pescadores perdida no fim do mundo e naquela vila todos os dias as pessoas faziam sempre as mesmas coisas, de modo que não haviam nenhuma novidade e todas as pessoas sabiam de antemão o que as outras iam dizer e por causa da enorme monotonia ninguém mais conseguia se amar. (...)
Até que um dia aconteceu uma coisa estranha, um menino viu uma sombra diferente flutuando no mar e gritou para a vila toda. E naquela vila onde nada acontecia, até uma sombra estranha flutuando no mar era motivo de liberdade, de modo que todos correram para a praia e ficaram esperando que o mar paciente trouxesse a coisa até a areia , e a coisa que o mar trouxe era um homem morto.
E na vila, era costume que as mulheres preparassem os mortos para o sepultamento , pegaram o homem que ninguém conhecia e levaram para uma casa, as mulheres do lado de dentro e os homens do lado de fora. As mulheres começaram vagarosamente e em silêncio fazer o trabalho de limpeza tirando as algas e os limos e as coisas verdes do mar.Um grande silêncio pairava no ar, pois elas não conheciam aquele homem e não havia o que falar sobre ele.
Até que de repente, no meio daquele grande silêncio, uma mulher disse: "se ele morasse aqui na aldeia teria sempre que curvar a cabeça para entrar em nossas casas, porque ele é alto demais." E todas as mulheres acenaram com a cabeça.
Até que uma mulher disse "eu fico imaginando como terá sido a voz desse homem, será que a sua voz ecoava forte ou como uma brisa?será que esse homem sabia cantar canções? ou será que esse homem era daqueles que dizia uma palavra e fazia uma mulher apanhar uma flor e colocar no cabelo?" Todas as mulheres sorriram , concordando.
E foi grande novamente o silêncio até que uma outra mulher olhou para as mãos do homem e disse "eu fico pensando nessas mãos, no que elas fizeram, será que essas mãos travaram batalhas? será que brincaram com crianças? será que acariciaram mulheres? será que essas mãos souberam amar e abraçar?"
e nesse momento todas as mulheres riram e suspiraram. E os homens do lado de fora perceberam que aquele corpo podia fazer com suas mulheres o que eles vivos não conseguiam fazer e eles tiveram ciúmes do morto e começaram a pensar nas batalhas que não tinham travado, nas coisas que não tinham dito, nas mulheres que não tinham amado.
E as mulheres começaram a sentir que lá no fundo, aves misteriosascomeçavam a bater asas e começaram a sentir que sentimentos e memórias perdidas surgiram de dentro delas e ficaram afogueadas de amor. Finalmente enterraram o morto, mas a aldeia nunca mais foi a mesma...

Fofoca!!


Uma mulher estava fazendo fofoca com uma amiga sobre um homem que ela mal conhecia.
Sei que nenhum de vocês jamais fez isso...
Naquela noite, ela sonhou que uma mão enorme aparecia do nada e ficava apontando para ela, o que a fez sentir um incômodo sentimento de culpa.
No dia seguinte, resolveu se confessar e contou a história toda para o velho Padre O'Rourke.
"Fofoca é um pecado?", perguntou ao velho padre.
"Foi a mão de Deus todo poderoso apontando um dedo pra mim?"
"Devo implorar pela sua absolvição?"
"Padre, me diga, eu fiz algo errado?"
"Sim!" o Padre O'Rourke respondeu.
"Sim, você levantou falso testemunho contra seu vizinho! Arruinou a sua reputação injustamente e deveria sentir vergonha por isso!"
Então a mulher disse que lamentava muito e pediu perdão.
"Não assim tão rápido!" retrucou o Padre. "Eu quero que você volte para casa, pegue um travesseiro e leve-o até o seu telhado, corte-o, abrindo-o com uma faca, e volte aqui."
A mulher foi para a casa, pegou um travesseiro, uma faca e subiu até o telhado, onde retalhou seu travesseiro. Depois retornou à paróquia como o Padre a havia instruído.
"Você rasgou o travesseiro com a faca?" diz ele.
"Sim, Padre."
"E qual foi o resultado?"
"Plumas, disse ela."
"Plumas?" ele repetiu.
"Plumas, para todos os lados, Padre!"
"Agora eu quero que você volte e reúna todas as plumas, uma a uma e as recoloque no travesseiro."
"Bem," disse ela, isso não pode ser feito. Eu não sei a onde elas foram parar. O vento espalhou-as por todos os lados."
"É isso, disse o Padre O'Rourke, "isso é o que faz a fofoca! Uma vez feita, você perde totalmente o controle sobre ela, de onde foi parar, de como se propaga e é impossível trazê-la de volta."
Esse maravilhoso texto faz parte do sermão do Padre, no belíssimo filme "DUVIDA" , aconselho a todos a assistirem ao filme e refletir se vale a pena espalhar uma "coisa" que você não tem certeza.