quinta-feira, 4 de março de 2010

Quando Ser Bom É Ruim



Ser bom é desejo ou pretensão de cada um de nós. Entretanto, a linha demarcatória do conceito de bom é tênue e variável no espaço. Por outro lado, só se pode dar o que se tem dentro de si mesmo.


Assim, ser bom exige , antes de mais nada, que seja bom para si mesmo. Quando se tem bondade suficiente para si, ela começa a fluir de maneira natural e espontânea para fora. Infelizmente são poucas as pessoas que atingem esse estágio de evolução.


Ser bom - como uma atitude consciente, procurada e movida pelo desejo de mostrar-se bom tem outras conotações, exceto a de bondade real. Muitos dedicam toda sua vida a representar o papel de bons, não por hipocrisia ou com o propósito de falsidade, mas atendendo a necessidades interiores de compensação. São os bonzinhos, os santos, as "Amélias". Embora sejam úteis e por isso mesmo aplaudidos, as suas motivações não têm a nobreza da verdadeira bondade. Na verdade por trás do seu comportamento dócil e louvável, esconde-se uma pessoa profundamente infeliz, cheia de mágoas e raivas ocultas.


A trajetória do bonzinho teve início na infância, quando suas experiências vividas e sofridas determinaram o desenvolvimento de conceitos negativos sobre si mesmo. Inconscientemente acredita que é inferior aos outros, que não merece, que não tem direitos e não é amado. Cresce com baixa auto - estima e com a auto - imagem de inferioridade.


Quando adulto, busca desesperadamente uma forma de ser aceito e amado. É aquele que está sempre pronto e, mais do que isso, procura de maneira compulsiva por pessoas e situações para que possa ser útil e servir, geralmente em detrimento de si mesmo. É aquele que todos usam , de quem tiram proveito e abusam. É aquele que nunca reclama e tudo faz. dentro de um relacionamento acredita que seja responsável pelo outro.


Não vive a sua própria vida , mas a do outro. Se este está alegre ele também estará. Se ele ou ela está de mal humor, sente-se para baixo, deprimido e culpado. Sofre de ansiedade permanente por querer antecipar desejos do outro. Jamais fala o que pensa ou sente por medo de desagradar. Quase nunca diz "não", pelo contrário, sempre diz "sim" quando desejaria dizer "não". Com isso, se assoberba de obrigações, trabalhos e compromissos muito acima de sua capacidade. Termina sempre se odiando por isso, sentindo raiva de quem o explora, mas mantém um sorriso nos lábios e continua gentil. Ele sempre ignora suas proprias necessidades e nas poucas vezes que as reconhece convence-se de que elas não são importantes e nem prioritárias.
Se você se viu em algumas dessas caracteristicas, é tempo de reavaliar a sua vida, os conceitos sobre si mesmo e os outros e começar um trabalho interior que o levará a recuperação da sua auto estima e valorização. Assim descobrirá que sacrificar a sua vida não é nenhuma virtude - ao contrário do que possam ter lhe ensinado - e, também, que ser bom não é ser bobo . Perceberá ainda que ser útil não é ser amado, porque as pessoas que utilizam de seus favores não lhe dão o que mais desejam - que é o amor, porque ninguém ama aquele que não se ama ou não se respeita !!!
Mais um texto do competente "Willian Rezende de Araújo"

6 comentários:

  1. Profundo. Muito bom! Renato

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  2. Pensei um pouco sobre esse texto. Acho que existem pessoas assim, mas, nao o tempo todo. Sem maniqueismos, acho que oscilamos entre o bonzinho e o explorador, uns tendem mais para um lado, outros para o outro. Mas, certamente, gozamos dos dois status, em momentos diferentes, com pessoas diferentes. Acredito que alguem pode ser bonzinho com A, mas na relacao com B ele assume o outro papel. Na vida somos, acredito eu, pessoas sempre em transformacao, segundo, inclusive, aquela pessoa com a qual nos relacionamos, cada pessoa extrai de no's algo diferente. E assim vamos nessa metamorfose ambulante, como diz melodia de Raul. Bj, Renato

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  3. Renato , estou encantada com suas colocações , você tem uma habilidade fantástica pra expor suas colocações . Bjs Obrigada e escreva , vc tem um talento ímpar !!!

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  4. Sempre leio o blog, mas raramente comento. E apesar de essa não ser mais a matéria da capa, acredito que eu possa enquadrar o "target", portanto resolvi escrever. Penso da mesma forma que o autor sobre os bonzinhos. E tenho pensado sobre a teoria do caminho do meio. Creio que ela é bem adequada para os bonzinhos, uma vez que não é necessário se indispor com ninguém, segundo essa tese. As vezes ficar no meio significa ficar em cima do muro, e o crescimento pode estar na radicalização. Eu acho que é errado isso ou aquilo e penso que assim ou assado que é o correto, e quem pensa diferente que defenda a seu ponto de vista. Podemos falar o que quisermos, desde que tenhamos embasamento, mesmo que seja somente no seu sentimento interior, o que pra mim já é mais do suficiente. Não tenho a intenção de me contradizer no final, mas gostaria só de lembrar a paciência é a ciência da paz, e que às vezes em uma discussão eu me recuso, faço hora, vou na valsa.

    Vinícius

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  5. Nossa Vinícius , como você disse raramente você comenta , mas dessta vez se superou . Adorei o seu comentário . Concordo com você na sua conclusão sore a paciência , queria ser assim e adorei a intertextualidade da linda música do Lenine. A paciência é a melhor postura para a paz e as vezes ficar calado e não se manifestar é a melhor escolha para o bem de todos . Saudades de você e mais uma vez obrigada !!! bjs

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  6. "Os fatos devem provar a bondade das palavras." Lucius Annaeus Seneca, mais conhecido como Séneca, filósofo, nasceu no ano 4 a.C. em Córdova e morreu no ano 65 d.C. em Roma.
    A parcimonia dessa frase me deixa mais convicto do verdadeiro sentido da vida. Somos mais nossos atos do que as coisas que dizemos.

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